Professor da rede estadual vai conhecer centro de Física na Suíça

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Professor da escola estadual Cleómenes do Carmo Chaves, no bairro Jorge Teixeira, 4ª etapa, na Zona Leste de Manaus, Hudson Batista da Silva, 38, vai integrar um grupo seleto de educadores brasileiros que participarão do programa Escola de Física, no CERN, um dos maiores laboratórios de pesquisa em Física no mundo, em Genebra, na Suíça.

Hudson atribui o feito de ser o único professor de escola pública da Região Norte selecionado para o programa graças à dedicação ao ensino da Física. À certeza de que com um pouco de imaginação e amor pelo que faz é possível transformar em atração a repulsão que alunos do ensino médio têm pela matéria portadora de conceitos, aparentemente, tão complexos.

“A rejeição à Física é natural, porque o ensino ainda trata o aluno como mero espectador. Nas minhas aulas, procuro inverter essa lógica. O aluno passa a experimentar os conceitos. E a partir dessa conciliação entre teoria e prática, é possível perceber que o estudante começa enxergar a matéria de outra forma. Com mais interesse”, ensina Hudson.

Hudson da Silva atribui o feito de ser o único professor de escola pública da Região Norte selecionado para o programa graças à dedicação ao ensino da Física

Hudson da Silva atribui o feito de ser o único professor de escola pública da Região Norte selecionado para o programa graças à dedicação ao ensino da Física

A prática em sala de aula e a participação nas Olimpíadas de Física garantiram a ele uma das 30 vagas para professores brasileiros em um curso de capacitação em Física de Partículas e Altas Energias no CERN, centro de pesquisa que ganhou as capas de jornais do mundo, em 2009, ao recolocar em funcionamento o grande colisor de prótons “Large Hadron Collider” (LHC).

“É um privilégio participar de cursos no centro que abriga o maior acelerador de partículas do mundo. Vai ser uma experiência que me permitirá descobrir formas de aproximar os alunos dessa área da Física que é pouco trabalhada em sala de aula, que é a Física de Partículas”, comenta Hudson.

Desde 2007, entre os programas que desenvolve, o CERN tem um voltado para a área de Educação, que é a Escola de Física. Inicialmente, o projeto é destinado a professores de escolas secundaristas portuguesas. A participação de educadores brasileiros foi possível a partir de 2009, depois de negociações entre pesquisadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), da diretoria da Sociedade Brasileira de Física (SBF) e do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), de Lisboa.

O processo de inscrição e seleção dos professores brasileiros que vão participar da Escola de Física foi coordenado pela SBF, através de sua Secretaria para Assuntos de Ensino, com o apoio do CBPF e com recursos oriundos da CAPES. A participação dos educadores do Brasil nos cursos do CERN acontecerá no período de 1º a 7 de setembro, ao lado de professores portugueses e africanos do ensino médio.

Hudson passou por um processo seletivo de abrangência nacional, com professores de Física do ensino médio das redes municipal, estadual, federal e particular de ensino. Entre os critérios de seleção estavam a participação nas Olimpíadas Brasileira de Física e a análise de currículo. “Tive contato com esse programa ano passado. Tinha recebido o convite para participar da seleção, mas por questão de tempo não me inscrevi. Esse ano resolvi arriscar e deu certo”, conta o professor.

Há nove anos lecionando na escola estadual Cleómenes, o professor afirma que ao retornar do CERN, procurará dividir a experiência com colegas e alunos. “Pretendo fazer mini oficinas e workshops nas escolas. Como estou desenvolvendo um clube de Física na Internet, a ideia é também passar o que eu vou aprender pelo blog que estamos desenvolvendo”, disse Hudson.

Hudson é natural do Estado do Ceará, mas veio com a família para Manaus aos cinco anos. “Eu me sinto amazonense”, diz ele. O professor conta que sempre estudou em escola pública e, em 2004, formou-se em Física, na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). “Tentei fazer engenharia elétrica, mas não fui aprovado. No ano seguinte, fiz o vestibular para Física, passei, e me identifiquei de vez com a matéria”, comenta.

Ao retornar da Escola de Física, Hudson iniciará o mestrado em Educação, pela Ufam e o Instituto Federal do Amazonas (Ifam), para o qual foi aprovado este ano. A escola estadual Cleómenes do Carmo Chaves é uma das 33 escolas públicas estaduais da área de abrangência da Coordenadoria Distrital de Educação 5 (CDE 5).  Hudson leciona Física para cinco turmas de ensino médio, no turno noturno. “Já trabalhei com ensino superior, mas gosto mesmo é de trabalhar com o ensino médio”, diz o professor.