Estudantes da rede pública representarão o Amazonas em campeonato nacional de Xadrez

Ao conquistarem o tetracampeonato de Xadrez do Festival Amazonense da Criança 2013 (antigo Campeonato Amazonense), Lorensen Willer Soares da Silva Silveira, 12, e Jéssica Santos de Souza, 13, ganharam o direito de representar o Amazonas na edição nacional da competição, que será realizada no mês de abril, na cidade de Catanduva, no Estado de São Paulo.
 
Lorense e Jéssica foram os destaques da equipe de alunos da rede pública de ensino, que no total conquistou cinco medalhas na competição estadual (duas de ouro, uma de prata e duas de bronze). O Festival Amazonense da Criança (Femac) foi realizado no Centro de Educação de Tempo Integral (Ceti) Gilberto Mestrinho, no Educandos, zona Centro-Sul. O evento reuniu 51 competidores em quatro categorias.
 
A conquista do 4º campeonato deu a Lorensen e Jéssica a oportunidade de mais uma vez representar o Amazonas no Festival Nacional da Criança (Fenac). Segundo o professor de Educação Física, Jorge Lelis, a Federação Amazonense de Xadrez tenta agora viabilizar as passagens dos dois estudantes para confirmar a participação deles no Fenac.
 
Em 2012, Lorensen disputou o Fenac com outros 54 competidores na categoria de até 12 anos e terminou em 14º lugar. Jéssica ficou na 19ª colocação, na categoria até 14 anos. “Desde os 9 anos de idade, os dois vêm participando de campeonatos e vêm ganhando”, ressalta Jorge Lelis.
 
Lorensen cursa o 8º ano do ensino fundamental, na escola estadual de Tempo Integral Djalma da Cunha Batista, no Petrópolis, zona Centro-Sul. Jéssica também é aluna do 8º ano do ensino fundamental, no Ceti Elisa Bessa Freire, no bairro Jorge Teixeira, na zona Leste. “Eles começaram a praticar xadrez cedo, na escola. Treinam uma ou duas vezes por semana, na própria escola, onde têm equipes de treinamento. Os dois são de famílias humildes, e vêm, por meio da prática do esporte, abrindo portas na vida deles”, afirma o professor Jorge Lelis.
 
 
Lorensen Willer Soares da Silva Silveira treina dez horas por semana
 
Lorensen diz que parte do bom desempenho dele nas competições ele deve ao professor Jorge. “Ele tem me ensinado muito, principalmente sobre aberturas de partidas”, comenta o enxadrista. O estudante conta que treina, em média, dez horas por semana, em casa e na escola.
 
Treinamento é o segredo
 
Segundo Lorensen, o xadrez, como toda prática esportiva, o resultado só chega com muito treinamento. O estudante lembra o exemplo dos competidores que ele enfrenta nas competições nacionais. “Lá fora o nível é muito alto. A gente passa um tempão para ganhar um peão dos caras. Aqui no Amazonas eu ganho rápido. Mas lá é mais difícil. Eles treinam muito, porque têm professores exclusivos para treiná-los”, comenta Lorensen.
 
A diarista Mírtila Correa Soares, 38, mãe de Lorensen, conta que teve de “negociar” com o professor Jorge a primeira participação do filho em um campeonato. Segundo ela, Lucas, 14, filho do meio, já competia, e era o único dos três filhos que iria disputar uma competição regional, realizada em Manaus no ano de 2009.
 
“Foi meio por acidente o início dele. Eu disse para o professor Jorge que conseguiria o patrocínio para a equipe dele, mas queria que ele colocasse o Lorensen na competição”, conta Mírtila. O professor aceitou a proposta, e não se arrependeu. Loransen, então com 9 anos de idade, ficou em primeiro lugar no torneio.
 
No ano seguinte, Lorensen se tornou campeão amazonense de xadrez. “O professor disse depois que não sabia que ele estava jogando tão bem”, lembra Mírtila. Segundo a diarista, todos os anos, por conta do talento para o jogo, o filho dela recebe convites para estudar em escolas particulares. “Mas ele não vai, porque ele gosta da escola onde estuda. E eu acho que a qualidade do ensino que ele tem no Ceti Djalma da Cunha Batista é a mesma que ele teria em outra escola”, avalia Mírtila.
 
Por causa do sucesso dos filhos no xadrez e nos estudos, Mírtila disse que se motivou a voltar a estudar. Fez o vestibular, e hoje está no 5º período do curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Amazonas (UEA). “Hoje eles falam que agora têm a obrigação de fazer faculdade, porque eu consegui”, comenta a diarista.
 
Segundo Mírtila, os três filhos, Lorensen, Lucas e Caio, não dão trabalho quando o assunto é estudo. “Eles são muito responsáveis. Não me dão dor de cabeça. Tenho muita sorte. Nunca tive reclamação”, diz a diarista.
 
Para compensar a falta de tempo para praticar xadrez, Lorensen costuma ler muito sobre o assunto, diz a mãe dele. “Ele ler cada livro enorme, que a gente ver que não é comum aquele tipo de leitura para uma criança. Com isso, ele desenvolveu muito a leitura dele”, afirma Mírtila. Lorensen disse que gosta de ler livros sobre táticas de xadrez, para depois tentar aplicá-las nos jogos. Em 2012,
 
Lorensen ficou em 1º lugar na escola dele na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), e em 4º lugar no Estado do Amazonas. Ele garante que o xadrez o ajuda se destacar na matéria. “Todo mundo que joga xadrez tem facilidade. Porque é um jogo que trabalha muito o raciocínio lógico”, conta o estudante. 
 
Dedicação
 
Se confirmada a participação no Fenac, Jéssica aposta que conseguirá melhorar seu resultado, em relação ao obtido em 2012. “Ano passado eu estava com uns probleminhas. Não me dediquei muito. Esse anoestou muito confiante. Estou 100%”, afirma a enxadrista.
 
Jéssica reconhece que o nível das adversárias de outros estados é elevado, mas lembra que elas não são imbatíveis. “É possível vencê-las. Basta se dedicar”, conta a estudante. Além de treinar uma hora por dia na escola, a enxadrista diz que pratica também em casa, no computador.
 
A paixão de Jéssica pelo xadrez é tanta, que ela confessa que só foi para o Ceti Elisa Bessa Freire por causa do jogo. “Eu jogava em outra escola. Mas o professor que ensinava a gente saiu e acabou. Aí o professor Jorge perguntou se a gente queria treinar com ele, então eu vim para a escola”, lembra a estudante.
 
 
Jéssica Santos acumula muitas vitórias e pretende trazer medalhas para o Amazonas.
 
Desde 1998, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc), por meio de suas coordenadorias distritais, realiza treinamentos de professores de Educação Física em xadrez. O objetivo, segundo Jorge Lelis, é que os educadores disseminem entre os alunos das escolas onde trabalham o gosto pela prática esportiva.
 
Saiba Mais: O Fenac aponta os campões brasileiros sub 8, 10, 12 e 14 anos que representam o Brasil nos campeonatos Mundial e Pan-Americanos de xadrez.